O desespero austero Grego

 

Foi depois de ver uma pequena reportagem na CNN enquanto fazia algum zapping pela televisão turca que me apercebi do novo limiar do desespero grego e como a austeridade pode encaminhar a um desespero real e maior: a morte.

 

O aumentar dos impostos, do número de desempregados e dos cortes nas pensões assim como na segurança social nacional vão para além do impacto básico sobre a economia familiar, chega a ter severas consequências sociais e psicológicas.

 

A economia grega está prestes a atingir o seu quinto ano de recessão e acompanhando esta espiral decrescente estão os inúmeros protestos e suicídios públicos - também referidos como 'debt suicides'.

 

Depois do caso de Apostolos Polyzonis, um empresário grego que após ter visto o seu pedido de um empréstimo para  pagar os estudos universitários da sua filha ser recusado, foi levado a perder o controlo e decidiu infligir fogo sobre si próprio à frente do próprio banco. Por sorte ou desfortuna - tudo depende de como Polyzonis encara agora o seu futuro, este sobreviveu depois de passar 7 dias internado no hospital sob cuidados intensivos.
Um dos últimos suicídios que foi alvo de grande mediatização, foi o de Dimitris Christoulas, um reformado de 77 anos que outrora fora um trabalhador no sector farmacêutico, e que pôs fim à sua vida perto do Parlamento Grego.
O seu acto foi justificado através de um último bilhete que deixou, onde ficou marcado este novo desespero grego e a possibilidade de um futuro vaticínio: 
“Não vejo outra solução senão esta forma digna de pôr fim à minha vida, para não acabar a vasculhar nos caixotes do lixo para me sustentar (...) Acho que os jovens sem futuro um dia pegarão em armas e enforcarão os traidores deste país na Praça Sintagma, como os italianos fizeram com Mussolini em 1945.”

 

Na Grécia, desde que a crise adquiriu as proporções preocupantes possíveis de percepcionar actualmente, os casos como o de Apostolos Polyzonis e de Christoulas  têm aumentado drasticamente.  Actualmente as linhas de apoio telefónico de prevenção do suicídio têm registado mais de um centena de chamadas diariamente.

 

Em Setembro do ano que passou, o ministro da Saúde da Grécia, Andreas Loverdos, disse que o índice de suicídios no país pode ter aumentado 40% nos primeiros meses de 2011, porém este número pode ser muito mais elevado do que as previsões lançadas publicamente.

 

 

O que se encontra aqui em questão não é um possível suicídio em massa, ou como alguns tendem a criticar "uma covardia em massa". Ninguém comete tal resignado acto sobre si de leve ânimo. O que leva as pessoas a tomarem tal decisão é a mesma que as leva a questionar os limites sustentáveis da qualidade de vida num país que se diz desenvolvido.
Para estes indivíduos o protesto sustentasse na base de que viver em condições tão extremas não é sequer  viver, por isso tendem para a morte na esperança de serem ouvidos e de se conseguirem libertar de um futuro que se pode tornar mais decadente do que o seu frágil presente. A falta de esperança e de perspectivas para a sua vida e para os seus familiares é o que os faz escolher a morte.

 

Não é correcto dizer a alguém que vive numa decadência à qual não está habituado e contra a qual sempre lutara em vida, que as suas acções só revelam covardia. Facto é que se entrarmos em comparação com a decadência prolongada que a população de um país subdesenvolvido tem de suportar, esta nova realidade europeia parece não ser justificação para tais actos de desespero, contudo há que manter em mente que para estas pessoas vindas de um país pertencente ao grupo dos mais desenvolvidos, com os novos desafios advindos da crise mundial o correcto e o justo perderam as suas normais definições e limites.

 

Ainda dentro desta dinâmica de pensamento deixo aqui transcrita uma afirmação dada à BBC Online do Brasil por Bakiari, pertencente a uma ONG de prevenção ao suicídio Klimaka: "O peso da crise é simplesmente maior do que a capacidade desta sociedade de sustentá-lo(...)".

 

 

 

 

 

Links úteis:
 

(Crise grega leva reformado ao suicídio na praça Sintagma de Atenas)

 http://www.ionline.pt/mundo/crise-grega-leva-reformado-ao-suicidio-na-praca-sintagma-atenas 

 

(Voluntários se mobilizam para combater onda de suicídios na Grécia)

 http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/10/111017_grecia_suicidios_mv.shtml 

 

(Austerity drives up suicide rate in debt-ridden Greece)

http://articles.cnn.com/2012-04-06/world/world_europe_greece-austerity-suicide_1_pharmacist-dimitris-christoulas-shot-suicide-note-anti-austerity?_s=PM:EUROPE

 

 

Joana Graça Feliciano
estudante - licenciatura de Relações Internacionais

 

 

publicado por Joana Graça Feliciano às 21:02 | link do post